Em outubro de 2020 foi apresentado publicamente o Programa Nacional de Investimentos 2030 (PNI 2030). Este Programa prevê, entre outros, investimentos nas infraestruturas Ferroviárias, Rodoviárias, Portuárias e Aeroportuárias. Segundo os dados publicados, estes investimentos em infraestruturas ascendem a cerca de 15,9 mil milhões de Euros, a serem executados em menos de 10 anos. Tendo em [...]

Em outubro de 2020 foi apresentado publicamente o Programa Nacional de Investimentos 2030 (PNI 2030).

Este Programa prevê, entre outros, investimentos nas infraestruturas Ferroviárias, Rodoviárias, Portuárias e Aeroportuárias.

Segundo os dados publicados, estes investimentos em infraestruturas ascendem a cerca de 15,9 mil milhões de Euros, a serem executados em menos de 10 anos.

Tendo em conta o tempo necessário para a contratação pública de projetos e das empreitadas e o tempo necessário à execução dos referidos projetos e empreitadas, o prazo de execução deste Programa será drasticamente reduzido.

Mesmo considerando o faseamento destes investimentos, ao longo do tempo, haverá uma sobreposição da execução de muitos dos projetos e das empreitadas num espaço temporal curto.

Isto leva-me a refletir sobre a capacidade do tecido empresarial português, no âmbito da Engenharia e Construção, para fazer face a este desafio, tanto técnico como financeiro. Mas, também, de pessoas.

A década de 2010 viu a instalação de uma crise profunda em Portugal, tendo um dos setores âncora vivido momentos extremamente delicados – a Engenharia e Construção.

Muitas das empresas tiveram que olhar para outras geografias, deslocando uma boa parte dos seus técnicos e gestores para aí trabalharem.

Por dificuldades de operação e de tesouraria, muitas foram sucumbindo ao longo dos anos. Outras foram perdendo capacidade, por redução de efetivos e de equipamentos.

O que é certo é que muitas delas não chegaram a entrar na presente década.

Do top 10 das empresas de construção do início do Século XXI, existem, neste momento, 3 ou 4, sendo que, dessas, já há capital estrangeiro na estrutura acionista.

Ora, aqui chegados, com uma base de empresas de Engenharia e Construção com menor capacidade técnica, humana e financeira do que a existente no início do Século XXI, como poderemos agarrar o Programa Nacional de Investimentos 2030 e dizer que “seremos capazes”?

Os desafios a enfrentar passarão, assim, pela capacitação das empresas ao nível financeiro e na criação de incentivos para o regresso de quadros técnicos da diáspora – pessoas altamente qualificadas, com elevada experiência e conhecimento, que deixaram Portugal e não regressaram.

Caso isto não aconteça, prevejo um Programa a ser executado por empresas estrangeiras, muitas delas numa perspetiva de não criação de valor para Portugal, sem investimento de longo prazo no país.

Hoje em dia vemos este estado de coisas, com cerca de 70% das empreitadas de obras públicas em curso executadas por empresas espanholas.

 

Miguel Guerreiro, Membro do Portugal XXI e Senior Teaching Fellow da AESE Business School